Qual a relação da seda, tecido de alto luxo usado pelas grifes de todo o mundo, com pequenas propriedades do Vale do Ivaí? A produção do casulo do bicho-da-seda, única matéria-prima do tecido que está ganhando espaço na região e expressão estadual. Tanto é que metade das finalistas do Concurso Seda Paraná, iniciativa do Governo do Estado para fomentar a atividade, são da área da regional de Ivaiporã da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.
As dez finalistas das mais de 400 inscritas foram reveladas nesta semana no 41º Encontro de Sericicultores do Paraná, realizado em Cruzeiro do Sul. As duas sericicultoras com maior produção e melhor qualidade serão anunciadas no dia 12 de agosto e ganharão uma viagem para Lyon, na França, onde participarão do Festival da Seda, em novembro de 2025. Cinco finalistas são da região: Gisonete Ferreira da Silva Souza, de Ivaiporã; Jéssica Fernanda Tofoli Fornaza, de Jardim Alegre e três produtoras de Godoy Moreira: Letícia Pereira dos Santos Silva, Maria Rosa Pires de Souza e Roseli de Fátima da Silva.
A quantidade expressiva de finalistas reflete o crescimento da atividade na região. Segundo Jairo Brietzke, gerente regional do IDR-Paraná, a regional de Ivaiporã é considerada hoje a maior produtora de casulos verdes do estado. “Na safra 2023/2024, nossos cerca de 210 sericicultores responderam por 16,63% da produção estadual, com uma área de 327 hectares e produtividade média de 719,29 kg por hectare ao ano”, destacou. “É um desempenho acima da média, que mostra o comprometimento dos produtores com a qualidade e a eficiência”, comenta.
A produção conta com apoio técnico do IDR-Paraná, em parceria com a Fiação de Seda Bratac S.A, única produtora de seda natural em escala industrial no Ocidente. Além disso, a Adapar que atua com fiscalização e orientação ambiental. Também colaboram associações regionais e a ABRASEDA
O Paraná é líder nacional na sericicultura, sendo responsável por 86% da produção de seda do Brasil, com uma larga vantagem em relação ao segundo e ao terceiro maior produtor, São Paulo (10%) e Mato Grosso (4%), respectivamente.
No Paraná 148 municípios trabalharam a sericicultura em 2024. No total, foram plantadas amoreiras em 2.460 hectares, com produção de 1,35 mil toneladas de casulos. O VBP atingiu R$ 44,4 milhões. Uma parte expressiva dessa produção é proveniente de propriedades familiares, onde a sericicultura é uma produção alternativa, com uma presença feminina robusta na cadeia produtiva. O fio de seda paranaense é exportado para países como França, Itália, Japão, Índia e China.
Trabalho árduo e constante
A produção do bicho-da-seda exige um acompanhamento constante e vários cuidados. Gisonete Ferreira da Silva Souza, produtora de Ivaiporã e uma das finalistas, trabalha na atividade há 28 anos e celebrou o reconhecimento. “Fiquei muito feliz em estar entre as melhores do Paraná. É o resultado do nosso amor pela sericicultura e dedicação diária. Ver esse trabalho ser valorizado me enche de orgulho e esperança para o futuro”, declarou.
Na propriedade de Gisonete, a produção é feita em 2 barracões – um do casal e outro do filho e da nora, que retornaram de Santa Catarina para trabalhar com a família. “Cada barracão tem 7,5 por 20 metros. Em média, produzimos 200 quilos por mês, por barracão o que rende cerca de R$7 mil. Mas há meses que ultrapassam R$9 mil”, explicou Gisonete Souza.
O ciclo produtivo do bicho-da-seda dura 28 dias. No período de produção, as larvas precisam ser alimentadas duas a sete vezes por dia, conforma o estágio de desenvolvimento, com folhas de amoreira, único alimento que elas consomem e que também precisa ser produzido na propriedade. Tudo é feito de forma manual, sem agrotóxicos. Ao fim do ciclo, os barracões são limpos e tudo recomeça. “Para mim, limpar o barracão é tão importante quanto limpar a casa, porque é ele que nos sustenta”, brincou a produtora, destacando que os cuidados com o barracão, a qualidade das amoreiras, tudo influencia na qualidade da seda.
Caminho promissor
O secretário de Agricultura de Ivaiporã, Valdemir de Paula Barbosa, o Miro, disse que o destaque regional serve como incentivo para o setor. “Isso mostra que o caminho é promissor. É importante manter as famílias no campo, frear o êxodo rural e valorizar o produto orgânico. Esse avanço na sericicultura pode atrair novos produtores e fortalecer ainda mais o Vale do Ivaí”, comenta.
O secretário destaca que Ivaiporã integra o programa estadual Paraná Mais Orgânico, que visa incentivar a produção orgânica até 2030 – inclusive para atender a alimentação escolar. “Gisonete Souza e a família são certificadas. A Bratac, por exemplo, só compra de produtores orgânicos”, destaca o secretário, acrescentando que a sericicultura pode ser complementada com outras atividades.



