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Karatê: Mestre Wagner Prudêncio um formador de cidadãos

Mestre Wagner Prudêncio um formador de cidadãos
Wagner trabalha voluntariamente para, por meio do karatê, ajudar na formação de cidadãos

Em 1999, por meio do karatê, ele começou em Jardim Alegre, onde reside, um projeto social que tem ajudado a transformar a vida de crianças e jovens carentes, criando campeões. “É o propósito da minha vida”, diz Wagner Prudêncio, que gerencia a filial da Cocamar Máquinas em Ivaiporã

“Em casa a gente não tem comida”. A triste afirmação ouvida de um menino numa instituição pública de Jardim Alegre (PR), em 1999, onde alunos do ensino básico faziam o contraturno escolar e recebiam alimentação, chocou o jovem Wagner Prudêncio, então com 17 anos. Ele tinha ido até lá para entreter os estudantes com uma apresentação de karatê, luta marcial à qual se dedicava desde os 9.

Wagner, hoje com 39 anos, é o gerente da filial da Cocamar Máquinas em Ivaiporã, município vizinho. Ele ingressou na concessionária há sete  anos, onde lidera uma equipe de 15 colaboradores. É casado com Rafaela e tem um filho.

“Ao ouvir aquilo, fiquei com o coração partido”, recorda-se. Aquele menino jamais poderia imaginar que, tão espontâneo e com sua frase tocante, estaria desencadeando um projeto de grande alcance social que mudaria a vida do lutador de karatê e de centenas de outras crianças e jovens do município.

Nascido em Assaí, ele sempre se viu no meio de tratores, pois o pai, Mário Sérgio, trabalhava para os donos da concessionária Nortrac e Horizon (a qual, em 2018, foi absorvida pela Cocamar Máquinas). Sua família viveu em Apucarana e Ivaiporã antes de fincar raízes em Jardim Alegre.

“Eu era bagunceiro na escola e tinha vontade de praticar karatê”, conta. O pai e a mãe não queriam, mas Wagner deu um jeito de convencê-los e começar a treinar em Apucarana com o professor Expedito Borges, um sensei – palavra que, em japonês, tem o significado de instrutor, sendo também um título de honra para pessoas que ensinam algo ou são especialistas em sua área de atuação.

Então, ele se manteve envolvido com o karatê e, sendo da cidade, foi convidado a apresentar-se na instituição, onde era aguardado pelas crianças e jovens – todos de famílias de baixa renda.

“Depois daquele dia, decidi começar imediatamente o projeto que se tornou o propósito da minha vida. E foi com a cara e a coragem”, comenta. Animado com a receptividade dos alunos, passou a dar treinamento duas vezes por semana, utilizando o salão da assistência social e o ginásio de esportes. Eram 120 praticantes da faixa de 6 a 18 anos, divididos em grupos.

Dali em diante, nada alteraria sua determinação em trabalhar voluntariamente para, por meio do karatê, ajudar na formação de cidadãos, ainda que precisasse desdobrar-se e até superar desafios. Começou a cursar educação física em Arapongas e, de 15 em 15 dias, ia a Pitanga e Curitiba para treinar com dois sensei, Manoel Zacarias e Guilherme Antônio Carolo (este último, inclusive, foi quem deu a liberação para ele começar o grupo).  “Todo o conhecimento eu ia passando para a meninada.”

Para os alunos, foi muito mais que uma novidade, mas um grande aprendizado. Aos poucos, eles incorporaram a filosofia da arte marcial, que exige disciplina, respeito e companheirismo. As únicas exigências para participar era que tivessem frequência escolar e bom comportamento.

Como, inicialmente, não havia recursos para nada, Wagner teve a ideia de organizar uma grande horta com a participação da turma que, empolgada, fazia a colheita e saía às ruas para oferecer os produtos de casa em casa, arrecadando recursos. Muitos salgadinhos também foram vendidos. Com esse mutirão, e o apoio de algumas pessoas, foi possível comprar os primeiros quimonos (o vestuário do karatê), viabilizando assim a participação do grupo em competições por cidades vizinhas. “Não queríamos simplesmente dar os quimonos, eles tinham que ir atrás e dar valor a essa conquista.”

Em São João do Ivaí, já na primeira disputa, os pequenos atletas surpreenderam ao garantir para a cidade de Jardim Alegre o título de campeã geral. A partir daí, as portas foram se abrindo para muitas outras façanhas.  

Em paralelo a isso, nas viagens, o relacionamento entre todos se fortalecia. “Levávamos marmitinhas e comíamos juntos, em meio a muita alegria”, diz o instrutor, sempre atento ao aspecto educativo: levavam também sacos de lixo para que as crianças aprendessem a não descartar os resíduos por aí.

 Assim que Wagner fundou a Associação de Karatê de Jardim Alegre, com CNPJ e tudo, a prefeitura doou um salão de 200 metros quadrados para os treinamentos e, quando há competições, disponibiliza um ônibus. Para a imagem da cidade é um bom negócio: do projeto social sairiam não só vencedores regionais, mas também campeões paranaenses, brasileiros e até mesmo uma vice-campeã mundial. E vários alunos, ao longo das décadas, foram chamados para defender a seleção paranaense .

 O karatê deu tão certo em Jardim Alegre que crianças e jovens de outras classes sociais se interessam em participar, mas 60% das vagas são asseguradas a alunos carentes. E, para incentivar o projeto, a Associação Comercial da cidade busca oportunidades para que, após os 16 anos, jovens comecem a trabalhar no comércio local.

 Wagner, que também se graduou até chegar a sensei pela Federação de Karatê-do Tradicional do Paraná, conta que uma de suas referências, o sensei curitibano Guilherme Antônio Carolo, (aquele que o liberou para começar), é diretor de projetos sociais da entidade e vem periodicamente à Jardim Alegre para administrar treinamentos, cursos e exames de graduação, o que faz também em vários outros municípios do estado. A pandemia interrompeu parcialmente as atividades, mantidas por ora apenas com os jovens.

 “Formamos uma equipe com alunos que hoje são instrutores”, acrescenta. São eles Edson Antonio da Silva , Anderson Amaro de Lima e Kellen Gusmão Leal, que substituem o chefe quando, em razão do trabalho, ele não consegue acompanhar. Há também dois alunos, Cesar Arruda Campos e Luciana Azevedo Rodrigues, que estão desde o início.

 “No tatame todos querem vencer, mas nossos atletas são preparados principalmente para vencerem na vida como cidadãos de bem”, ressalta Wagner, afirmando ser este o maior legado do karatê. Ele diz não fazer planos para o futuro, “sou uma pessoa realizada”, justifica, mencionando aproveitar cada momento entre os alunos. E quando olha para trás, constata que muitos deles conseguiram construir suas vidas, em grande medida, a partir dos ensinamentos que procurou transmitir.  

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Fonte: Cocamar Máquinas

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