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Municípios da região encontram soluções para gestão do lixo

Centro de Reciclagem de Ivaiporã
Centro de Reciclagem de Ivaiporã / Foto: Ivan Maldonado

Pelo menos 50 famílias trabalham atualmente na separação e comercialização de materiais recicláveis em duas cidades do Vale do Ivaí, que podem ser consideradas exemplos a partir de modelos distintos de destinação de resíduos sólidos urbanos, Borrazópolis e Ivaiporã. Em Borrazópolis, a coleta seletiva e a reciclagem é realizada por uma associação e, em Ivaiporã, o programa é viabilizado através de uma parceria com uma cooperativa de catadores.

A destinação do lixo urbano é, sem dúvida, um dos maiores desafios ambientais do ponto de vista das cidades. E poucas podem de fato comemorar avanços significativos neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente. Dentre os principais problemas que afetam o meio ambiente, um dos mais importantes é o descarte inadequado de lixo, a falta de coleta seletiva e de projetos de reciclagem, desafios que se tornam cada vez maiores por conta do estilo de vida da população, que produz mais lixo a cada dia.

Para se ter ideia do tamanho do desafio, basta imaginar que, em média, cada pessoa produz diariamente perto de um quilo de lixo. É o dobro do que cada brasileiro produzia, por dia, há apenas 20 anos. Hoje, entidades ambientais estimam produza diariamente algo perto de 240 mil toneladas. O que se produz de lixo por ano no país daria para encher o estádio do Maracanã mais de 200 vezes. E poucas pessoas param para pensar no tamanho do desafio que é dar destino adequado para tanto lixo.

O dia 5 de junho é marcado como o Dia do Meio Ambiente desde 1972, quando foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, com o objetivo chamar a atenção de todas as esferas da população para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram considerados, por muitos, inesgotáveis.

 IVAIPORÃ

O programa de coleta seletiva de lixo, em Iviporã, é fonte de renda para 28 pessoas que integram a Cooperativa de Materiais Recicláveis de Ivaiporã (Copemari), presidida por Greiciele Aline Arcanjo Allein.

A Copemari realiza a coleta e a triagem dos recicláveis da cidade e distritos. De acordo com Denise Kusminski, diretora de Meio Ambiente e de Serviços Urbanos da prefeitura de Ivaiporã, a cidade gera diariamente perto de 22 toneladas de resíduos, sendo 25% de recicláveis, 13% de rejeitos e 62% de orgânicos. A cidade vai começar a trabalhar, em aproximadamente um mês, com a compostagem dos resíduos orgânicos, que atualmente vão para a trincheira do aterro sanitário.

Denise diz que essa etapa do programa já está em fase de finalização de correção das baias, com o revolvedor devidamente instalado, mas que ainda depende de pequenas adequações para funcionamento. O aterro sanitário da cidade fica na área rural e para lá vão os rejeitos e os orgânicos.

A prefeitura dá suporte para a cooperativa, mantendo no aterro retroescavadeira, trator de esteira, caminhão caçamba, além de equipamentos para operacionalização e manutenção do aterro, como triturador de galhos, barracão de triagem, refeitório, balança rodoviária, trincheira operacional (com drenos).

A prefeitura banca dois caminhões com motoristas para a coleta e repassa mensalmente, mediante contrato, R$ 14 mil para a cooperativa para remunerar trabalhos. A cooperativa faz gestão e comercialização dos materiais coletados.

Denise Kusminski diz que o programa de reciclagem atualmente não contempla nem metade da população. Daí a priorização de programas de educação ambiental para aumentar participação no processo de reciclagem.

Segundo a diretora ambiental, o município tem capacidade para gerar 135 toneladas/mês de reciclados, o que atualmente não passa de 50 toneladas. “Estamos trabalhando na rede de educação para sensibilizar os jovens e crianças em idade escolar”, informa. 

A COOPERATIVA

A presidente da Copemari, Greiciele Aline Arcanjo Allein lembra que ela mesma, há pouco mais de dois anos, era uma desempregada.  Encontrou trabalho na cooperativa, onde atuou como coletora, no caminhão, depois foi para o barracão de triagem, entrou para a diretoria e hoje preside a entidade.

Todos trabalham 8 horas dia, de segunda a sexta e, aos sábados, até meio dia. A entidade ganha por produção. Ela conta que, do repasse da prefeitura, a entidade tira as despesas, como INSS (20% sobre salário mínimo), ICMS, PIS e Cofins (juntos, ficam com 15% da receita bruta), e faz uma reserva legal para garantir o 13º. Salário.

Considerando o repasse da prefeitura e o faturamento com a venda de reciclados, a receita bruta da Copermari oscila entre R$ 38 mil e R$ 40 mil. Ao final de cada exercício mensal, cada cooperado acaba ficando com rendimentos na casa de R$ 1,5 mil e R$ 2 mil.

“Para além da renda, da sobrevivência, a gente tem orgulho pelo que faz, porque entende a importância do nosso trabalho para o meio ambiente”, diz Greiciele.  Para ela, todas as pessoas deveriam saber como funciona o processo de coleta e seleção do lixo para entender a importância e os desafios. “Só estando aqui dentro para entender o quanto a gente gera de lixo no dia a dia e do tamanho do problema que isso representa numa sociedade de consumo”, afirma. Para ela, isso permitiria a todos pensar a respeito e a conhecer como é a logística reversa do consumo, que é a destinação adequada dos resíduos

BORRAZÓPOLIS 

A pequena Borrazópolis, com pouco mais de 6 mil habitantes, é uma das poucas cidades que pode dizer que consegue dar destino adequado a 100% do lixo urbano produzido diariamente. Todo o material da coleta, mesmo o que não é separado já na casa das pessoas, acaba sendo separado na usina de reciclagem, que é gerida pela Associação dos Catadores de Materiais Reciclados de Borrazópolis (Acamarb), que tem 17 associados e mais alguns diaristas, totalizando 20 famílias locais.

Todo o material reciclável é separado e comercializado pela entidade e todo o lixo orgânico produzido na cidade, acaba sendo transformado em adubo, que também é comercializado. Para o aterro sanitário da cidade, só vai o material orgânico não contaminado, como folhas das árvores, resultado da varrição das ruas.

O prefeito de Borrazópolis, Dalton Moreira, explica que a Acamarb já opera há mais de 5 anos, fazendo a coleta de lixo da cidade e a separação. Agora, anuncia, a prefeitura pretende ampliar o contrato com a associação, passando a ela também os serviços de varrição da cidade. “Nossa visão de futuro é ampliar esse programa e continuar investindo em melhorias em nosso projeto, ampliando as ações de educação ambiental, por exemplo, de forma que todo o lixo já saia devidamente separado de cada uma de nossas casas”, diz.

Moreira não esconde o orgulho do programa municipal. “É uma beleza ver a usina funcionando, a destinação adequada para todo o lixo urbano. Isso significa emprego e renda para as famílias da associação, mas significa também qualidade de vida e respeito ao meio ambiente em nossa cidade”, diz.

O presidente da Acamarb, Alessandro Francisco de Andrade, explica que além dos 17 associados, o contrato da prefeitura permite à entidade ter mais dois funcionários e, por conta do aditivo do lixo orgânico, outros quatro contratados, totalizando 23 pessoas. No dia a dia, eles fazem a coleta dos recicláveis no comércio e, nas quartas-feiras, percorrem a cidade, de casa em casa, fazendo a coleta de lixo. Recolhem, em média, o equivalente a 4 toneladas de lixo, entre orgânico, recicláveis e rejeitos.

Pelo contrato, a associação é remunerada mensalmente em R$ 38 mil, pela administração municipal. Pouco mais de R$ 20 mil são utilizados para a folha salarial. O restante é investido no pagamento de uniformes, auxilio alimentação e nos custos da associação. O salário de cada associado é de R$ 1.430, complementado mensalmente com os resultados da comercialização dos reciclados, o que rende mais algo em torno de R$ 600 a cada associado, ao mês.

Alessandro, que dirige um dos dois caminhões da associação e diariamente também dirige o ônibus que transporta o pessoal, diz que a associação transformou a realidade dessas famílias. “Antes da associação o pessoal até brigava por papelão, na rua. Hoje não. Têm salário, a gente paga INSS, tem uniforme, auxilio alimentação. E o orgulho de fazermos um trabalho importante para a cidade e para o meio ambiente”, afirma. “Hoje a gente é respeitado, trabalha legalizado”.

Greiciele Aline Arcanjo Allein
Greiciele Aline Arcanjo Allein presidente da Copemari / Foto: Ivan Maldonado
Coleta Seletiva em Ivaiporã / Foto: Ivan Maldonado
Associação dos Catadores de Materiais Reciclados de Borrazópolis (Acamarb), que tem 17 associados e mais alguns diaristas
Foto: TN Online
Todo o material reciclável é separado e comercializado pela Acamarb / Foto: TN Online

Por, Claudemir Hauptmann 

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